Espaço de apropriação na gerohabitação.
As pessoas mais velhas têm um sentido sofisticado da ideia de lugar, e mantem um conhecimento corporal e ambiental objetivado que os permite detectar perfeitamente aqueles espaços de apropriação mais atrativos. Sua topophilia deriva, em muitos casos, da alegria de um uso periódico de um espaço, vivido positivamente, porque cumpre várias funções que explicam a apropriação; autorregularão, identidade (a pessoa se faz a si mesma por meio de suas próprias ações), segurança, vínculo, apoio a metas e atividades desejadas pelo usuário.
Mas aqui, dentro da gerohabitação, o que se deseja é incentivar uma sociabilidade desde o projeto. E estes espaços oferecem oportunidade para desenvolver atividades em lugares coletivos, que podem dar a oportunidade de um convívio informal. O tratamento dos espaços coletivos da arquitetura de Hertzberger oferece soluções interessantes e cabe observa-las novamente.
Se bem que, atualmente, não se recomendam mais os corredores carregados bilateralmente, nem são construídos conjuntos de gerohabitação de semelhante porte – o recomendável hoje é utilizar pequenos aglomerados, evitando um número massivo de unidades – o exemplo de De Drie Hoven (1971-1974) continua vigente tratando-se de espaços de apropriação. E embora é, na realidade, um completo caso de estudo que aloja múltiplas forma de atender a velhice, o que se pretende observar aqui é apenas o mecanismo da apropriação do espaço.
No De Drie Hoven, o traçado dos espaços dos corredores faz deles algo mais que um corredor. Em vez de serem retilíneos, o espaço vai se ampliando e retraindo em sua largura. O corredor responde mais a uma figura de zig-zague do que a uma linha. Mas esta geometria cria generosos umbrais sobre as portas das habitações, ou simplesmente, pequenos espaços residuais. E o mais interessante é seu estatuto, pois não parecem pertencer exatamente nem ao âmbito pulico, nem ao particular/íntimo.
Sua eficácia, como espaço de apropriação, se observa na enorme quantidade de fotografias da época que mostram como os habitantes deste conjunto colonizam estes interstícios. Aparecem aqui floreiras, tapetes e quadros colocados pelos próprios usuários; todos indicadores de uma intensa apropriação.Mas há mais, pois se pode observar claramente, o que Beckley chamou de “ancora” – elementos que promovem a permanência em um lugar – e “ímãs” – que geram atração. Se trata do surgimento de ambientes confortáveis equipados com pequenas mesas de conversação, pares de cadeiras, ou mesas para um almoço.
Na teoria dos espaços de apropriação, Beckley pontua que o aspecto social é muitas vezes uma âncora e o ambiental um imã, ideia que poderia explicar o êxito destas configurações utilizadas por Hertzberger, que posteriormente se convertem em espaços de sociabilidade em todo tipo de pessoas e claramente visível no caso da terceira idade, mas também cabe pensar em espaços cujas possibilidades sociais são em si mesmo “sociopetos”, como seriam umas poltronas, um serviço de café ou água.
Podem apontar-se outras estratégias, como a abertura de janelas, algumas vezes sobre o espaço de kitnet para manter o contato visual com o exterior, um apoio para procurar as chaves, bem iluminado. Mas, entre estes, são dignos de atenção o uso de portas holandesas, importantes para, em palavras do próprio Hertzberger, “manter o espaço suficientemente fechado para que, aqueles que vierem do exterior, não se sintam explicitamente convidados a entrar, mas esta porta aparenta estar o suficientemente aberta para que possam estabelecer uma conversação quando alguém passa frente a ela.
Espaços de apropriação em um interior são pequenas áreas, posições, que oferecem condições para situa-se em razão de alguma atividade pessoal e/ou compartilhada, leitura, conversa discreta, confidencial, de gênero sedentário. Sobre o espaço semi-público as atividade podem não ser somente passivas, é a atividade infantil, os jogos, o descanso no passeio.