A partir das expressões hábitat kangourou (Bélgica), casa dela nonna (Italia) y granny flat (Australia) é revestido por uma prática social recorrente, orientada a resolver estruturas especiais adaptadas para a terceira idade, que pode ser enquadradas dentro da noção de habitação satélite.Em termos de organização construtiva, consiste de duas unidades separadas, sendo uma destas semiautônoma, dependente parcialmente da outra. Na habitação satélite existe uma hierarquia: há uma entidade principal, com todos os serviços e equipamentos completos, a qual apoia e ampara a entidade secundária, de menor tamanho. Serviços como lavador de roupas, limpeza, cozinha completa, ou tudo que implique manutenção e higiene, são alojados na entidade principal.
Mas, mais além da complementaridade operativa, a habitação satélite cria uma estrutura imobiliária que atende indiretamente a outro tipo de problemas: se trata de gerar oportunidades de encontro social, de forma pontual, mas contínua. O funcionamento cotidiano suscita contatos entre os habitantes da entidade principal – que pode ser uma família ou um casal jovem- e um ancião, na entidade satélite. E este ponto é relevante tratando-se de gerohabitação.
A solidão, entendida está como parte inevitável no processo de envelhecimento, é mitigada na habitação satélite; o ancião se sente amparado, podendo contar com uma ajuda informal, a mão, que pode auxiliar em caso de uma emergência. Se trata de uma fórmula alternativa que preserva valores importantes, próprios da terceira idade, podendo envelhecer no lugar, sem necessidade de se mudar, e com companhia.
Talvez, uma estrutura espacial que pode ser enquadrada aqui é a da seção semi-duplex- utilizado frequentemente pelo Team X e colocado em prática na torre de Interbau de Bakema e van den Broek. A seção semi-duplex pode ser descrita como um corredor coletivo sobre o qual se dá acesso a dois tipos de apartamentos.
Apartamentos de dois pisos, por um lado, com dois ou três dormitórios, organizados por uma diferença de nível médio. O bom desempenho desta estrutura, era apontado na época por Candilis y Woods, quando discutiam que esta permitia “isolar-se” ou “reunir-se”, organizando o espaço níveis médios, que delimitam o coletivo/ público/íntimo.
De outro lado do corredor, teríamos pequenas células de apartamento-estúdio, situadas na porta contrária do corredor, com acesso independente, que podia funcionar de forma satelital, alojando um filho adolescente em caminho de se emancipar, ou a um ascendente familiar- uma tia anciã, o avô da família, etc.-, mantendo uma boa distância social com uma máxima proximidade física.
Um exemplo pode ser encontrado no caso do habitat kanguourou belga, que é definido como “uma vivenda unifamiliar que é dividida em duas unidades, neste caso autônomas, embora agrupadas para alojar uma família ou um casal jovem, na parte superior, e um ancião na planta ao nível da rua.
Aqui deve-se observar o feito de que a vivenda do ancião se encontre no nível inferior, pois facilita o acesso em caso de que, repentinamente, apresentem problemas de mobilidade.
Resumindo, a habitação satélite engloba características semelhantes que podem ser descritas como: (a) acesso independente das duas unidades, (b) serviços compartilhados e equipamento compartilhado, gerando economia de trabalho físico e financeiro, e (c) organizações espaciais que geram oportunidade de intercambio social.
O que resulta curiosamente é que estas organizações, sem dúvida úteis e eficazes, surgem regularmente a posteriori, quer dizes, anos depois da ocupação, e poucas vezes como parte de uma projeto inicial com possíveis considerações de flexibilidade evolutiva. E isso sucede devido, talvez, a que o mercado imobiliário não há reconhecido ainda, sendo consideradas como “pouco glamorosas” em uma sociedade que aplaude o modelo de uma família nuclear, dentro de um único espaço rigorosamente privado.”